Uma das drogas mais usadas no Brasil, a Cannabis sativa (a maconha) desperta um debate com no mínimo dois aspectos opostos. O primeiro se refere às consequências do uso "recreacional", do abuso e da dependência da maconha, e o segundo, aos efeitos terapêuticos atestados em pesquisas de alguns dos seus princípios ativos indicados em tratamentos clínicos restritos. Nessas situações específicas, como no tratamento de casos de epilepsia, não vejo motivo para questionamentos, já que há desde 2015 reconhecimento dos benefícios pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) além de controle e fiscalização dos órgãos competentes.
O uso recreativo da maconha por adolescentes e jovens entre 13 e 25 anos, porém, é maléfico à saúde, podendo causar danos importantes, fato recentemente comprovado por pesquisa e que já era uma certeza entre muitos profissionais da saúde. O uso da droga, em especial por adolescentes, faz com que as sinapses (comunicação entre os neurônios, células do cérebro) se formem com má qualidade ou não se consolidem.
O cérebro sofre e se torna menos eficiente em seu amadurecimento. Este fato foi documentado na edição de fevereiro do jornal norte-americano JAMA Psychiatry, na qual pesquisadores de universidades americanas e da Oceania relatam, após estudo envolvendo 23.317 pessoas, entre outros achados, que pessoas que usam maconha quando jovens têm o risco aumentado em 37% no desenvolvimento de depressão, 50% mais no desenvolvimento de pensamentos suicidas e são três vezes mais propensos em tirar a própria vida. E a pesquisa mostra que para os adolescentes o risco é ainda maior, pois a ação de um dos componentes da erva, o tetraidrocanabinol (THC), na sinapse (comunicação entre os neurônios ) a torna ineficiente. Para um jovem, deixa sequelas irrecuperáveis, efeitos observados principalmente em um grupo de pessoas que consomem a droga da puberdade até por volta dos 25 anos. Esse resultado foi observado em quem fumava a partir de quatro cigarros semanais ao longo de pelo menos um ano.
A sociedade tem sido omissa em relação ao consumo de drogas em geral (muito se fala, mas pouco se faz). Porém, a maconha, classificada por muitos como uma droga "inofensiva", se continuar tendo o consumo em crescimento como nos últimos anos, poderá levar num futuro próximo a uma "fábrica" de psicóticos. Algumas pessoas podem até desenvolver a esquizofrenia (acredita-se que essa seja uma doença multifatorial, para a qual deva existir uma predisposição genética, mas são necessários também fatores ambientais desencadeadores para ela se manifestar, e a maconha é um deles). Isso deve ser um fato observado quando avaliamos políticas públicas de saúde mental, em especial, e ações de instituições e seus agentes que abordem o consumo e outras determinações vinculadas à maconha de forma geral.
É importante colocar que o seu corpo não faz distinção entre uma droga legalizada e uma droga ilícita. Ele só sente o efeito que a droga cria depois de você ter usado, e muitos deles são irreparáveis. A quem serve e/ou ao o que serve termos um "batalhão" de jovens e adultos doentes - muitos não se importam com a saúde deles como um todo? Sim, não existe cigarro de maconha inocente. Consumida por cerca de 3 milhões de brasileiros, a droga merece no mínimo questionamentos, preferencialmente com base em achados científicos documentados por pesquisadores sérios, suas consequências nas políticas públicas (avaliação de indicadores) e os gastos com essas políticas.
É necessário o fim das opiniões apaixonadas que em nossa história recente têm cegado o senso crítico de muitos, justificando o injustificável e esquecendo a obrigação do Estado de proteger contra o abismo e não abrir portas para ele.